domingo, 4 de outubro de 2009

"um misto de angústia e decepção."

Adoraria hoje chegar aqui e escrever um texto cheio de alegria e glórias por ter participado de dois dias de expressão de democracia dentro da universidade, dois dias onde estudantes juntos traçariam caminhos para conquistas dos mesmos dentro da academia. Porém um misto de angústia e decepção, e porque não tristeza, me vêm à tona. Neste momento eu relembro minha pequena trajetória no Movimento Estudantil, mais especificamente, alguns momentos marcantes. Meu primeiro ato, a ocupação da FUNDAE, ainda um pouco desentendida, caindo de paraquedas, onde lutávamos contra as fundações ditas de apoio, contra a corrupção, pela garantia dos direitos da educação. Relembro ainda e, mais fortemente, do tempo - curto, mas (in)tenso - que fiz parte da comissão eleitoral das eleições para Diretoria Executiva do DCE e Representações Discentes dos Orgãos Superiores da UFRGS, no ano passado, quando consegui entender como funciona de verdade o movimento estudantil. Neste mesmo tempo o início da primeira gestão do Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação, pelo qual sempre me entreguei, pois lá é onde eu reafirmo todo dia minha opção pela educação, lá onde eu descobri pessoas com mesmos ideais que eu, onde tive oportunidade de construir boa parte do meu caráter militante e de luta, a partir de exemplos e vivências. Diretório este que representei nesse último mês na Comissão Organizadora do IV Congresso de Estudantes da UFRGS, e aqui inicia minha decepção.

Foi um mês de reuniões semanais, às vezes duas por semana, decidindo e organizando tudo para que as coisas saíssem da melhor maneira possível. Tomada de decisões, discussões, novas vivências, percepções.

Chego agora em casa daquele que era pra ser o IV Congresso DE ESTUDANTES da UFRGS, mas infelizmente não foi isso que vivenciei. Estes dois últimos dias foram tão maçantes quanto os dois meses de comissão eleitoral do ano passado, não tanto pelo trabalho, mas pelo seu resultado. Foram dois dias deixando tudo em dia: alimentação, credenciamento, listas, estrutura, correria, para no final perceber que o que estava sendo organizado não era um congresso de ESTUDANTES e sim de MILITANTES, um Congresso do Movimento Estudantil de vanguarda da UFRGS.

Por vários momentos me perguntei: Para quê uma comissão organizadora composta por estudantes de diferentes cursos? Para quê tomar decisões prevendo situações se na prática tudo era discutido no caso à caso, onde até não se convencer metade das pessoas a mudar a opinião sobre uma pauta, nada era resolvido? E mais intrigante ainda, por que uma tarde inteira de discussões sobre Acesso à Universidade, Currículos do Ensino Superior, Políticas de Permanência, entre tantos outros grupos de trabalho, se na plenária final questões do Movimento Estudantil e discussões pertinentes a um grupo seleto de estudantes recheado de interesses passaram por cima de toda e qualquer discussão. E ainda, para quê se esforçar em divulgar o evento para todos acadêmicos se na hora das decisões mais importantes do congresso quem se juntava em ‘cantinhos’ eram representantes de forças políticas que não representavam o todo daquela plenária?

Hoje eu entendo essa organização, não aceito, mas entendo essa forma de funcionamento, e considero uma falta de consideração com aqueles que constroem as lutas e o próprio movimento estudantil fora destes grupos. Porém, neste espaço tinham estudantes que vieram reivindicar questões muito importantes para seus cursos, suas trajetórias acadêmicas e se sentiram patrolados por dezenas de discussões que não lhes fazia sentido nenhum, intrigas políticas e jogos de interesse que tornaram o IV Congresso de Estudantes em um circo, um circo armado para aqueles que sentem-se os donos dos interesses dos estudantes, mas que consideram suas pautas mais importantes que qualquer outra.

Para resumir tudo isso eu pergunto: Qual era o objetivo do Congresso? E eu mesma respondo: Discutir a Universidade que temos e a Universidade que queremos. Sim, concordo que o Movimento Estudantil precisa se organizar, e que muitas questões políticas externas à Universidade são importantes, mas não mais que as pautas levadas por cada estudante, que na sua caminhada acadêmica se depara com diferentes problemas em seus cursos ou na sua própria permanência na faculdade, e que pensou encontrar no Congresso espaço para colocar suas bandeiras e encontrar respaldo daqueles que dizem ser porta-vozes da luta dos estudantes.

Se o objetivo de alguns grupos é construir um movimento estudantil de massas, cada vez mais com participação da base, os métodos vão ter que ser revistos, pois eu tenho certeza que aqueles estudantes que lá estavam ontem, e que não compõem o movimento estudantil, não retornarão a espaços como estes, onde não têm voz e nem vez nas discussões.

Por fim, eu reafirmo minha decepção e meu nó na garganta. Reafirmo mais ainda meu repúdio às situações vivenciadas e, principalmente àqueles que ainda se sentem os donos da verdade, que passam por cima de todos e de qualquer coisa para preservar seus próprios interesses.