segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Compartilho esta angústia...

Acabo de chegar na Ilha da Pintada, onde trabalho há 6 meses, e senti a necessidade de redigir este texto, para compartilhar com todas as pessoas com quem me relaciono de alguma forma, a angústia e a situação de caos que se instala aqui.

É deprimente o estado da Ilha, desta como de tantas outras pelas quais passei no caminho até aqui. Correnteza dentro das casas, as pessoas tirando tudo o que podem de dentro delas, as famílias sem poder sair de dentro das casas, ou sem poder entrar. Uma tristeza só.

A chuva parou, mas o rio não para de subir.

Porém a água mal entra nos casarões. Quem conhece a Ilha da Pintada, sabe do que estou falando. Para quem não conhece: eu explico. A primeira imagem de quem chega à Ilha é um grande contraste. Passamos por vários casarões (daqueles de filme, mesmo!), com um belo quintal, casas enormes, bem cuidadas, com o rio ao fundo. Lanchas e barcos estacionados ao fundo, e os melhores carros na frente. Estão muito bem protegidos, e por incrível que pareça, em mais de um daqueles grandes condomínios me surpreendi vendo os moradores sentados no pátio tomando chimarrão... Eles estão bem protegidos, devem ter boas estruturas que desviam as águas, que vão ainda mais fortes para os seus vizinhos, que tentam salvar, ainda, o pouco que têm.

Na escola em que trabalho a situação não é muito diferente. O pátio do fundo da escola onde tinha uma quadra de esportes e a praça das crianças agora virou um rio, assim como algumas ruas aqui dos arredores. E aqui mais um contraste: as pessoas preocupadas com desfile de sete de setembro, que era pra ter acontecido ontem, mas a chuva não deixou. Me lembro aqui de Paulo Freire e sua reflexão sobre a comemoração dos 500 anos de Descobrimento do Brasil, na obra Pedagogia da Indignação. Comemorar o que??? Que Pátria livre é essa, que os que pouco têm ainda perdem tudo, e os que poderiam fazer alguma coisa estão de braços cruzados, bem protegidos, despreocupados?

Não sei o que pensas sobre isso, mas isso me inquieta, e pensar no assunto pode fazer bem!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

“A impotência é uma escolha, escolha de não responder pelos seus atos!”

Já comentei aqui no blog, em um post mais antigo que a música inspira, marca momentos, faz refletir. Hoje ouvi uma música do Marcelo D2, Desabafo, música que escuto quase que diariamente, mas só hoje uma frase me chamou muita atenção:

“A impotência não é uma escolha também
De assumir a própria responsabilidade
Hein?”

Quantas vezes reclamamos da violência, das injustiças, da exploração, da drogas, da corrupção, e nos colocamos como impotentes diante dessa realidade que está diante dos nossos olhos, diria que dentro da nossa própria casa, muitas vezes. Nos colocamos como impotentes e, assim, covardemente nos acomodamos, por que, como seres impotentes, não temos nada o que fazer para mudar tal realidade.

Ao ouvir a música para mim ficou muito claro, como que um insight, o que a impotência representa: a acomodação e, principalmente, o medo de assumir a responsabilidade daquilo que fazemos.

Nos vemos impotentes porque temos medo do julgamento por assumir um lado, por brigar por aquilo que consideramos certo e (ou) justo.

A impotência é uma escolha, e na vida somos obrigados a ocupar um dos lados. Insistir em nos portar como impotentes não significa estar “neutro”, é muito pior que isso, é escolher o lado daqueles que oprimem, que roubam, que violentam, que agem injustamente, pois nada fazemos para mudar tais ações, que tendem a crescer e se fortificar, já que não encontrarão barreiras para expandir.

Escute: Desabafo - Marcelo D2