Texto publicado no dia 04/04/2009 pelo jornal Notiserra, do Vale do Taquari.
Para pais e educadores pensarem...
Angela Marin Pertile¹
Como já foi veiculado pelos meios de comunicação, novos métodos estão sendo utilizados para alfabetizar e educar as crianças dos anos iniciais nas escolas públicas do Rio Grande do Sul. Um convênio do Governo do Estado com três instituições transfere poderes para as mesmas levarem seus métodos de alfabetização para os colégios estaduais, para que, em uma espécie de competição, no final de um período se aplique um teste nos alunos(cobaias), e o método que melhor conceito obtiver em alfabetização será escolhido como oficial do sistema estadual de ensino.
Pode parecer maravilhoso o que a Instituição Ayrton Senna, o GEEMPA e a Alfa e Beto apresentam em suas cartilhas, muito coloridas, cheias de figuras e instrumentos para alfabetizar. Porém, algumas críticas têm que ser feitas. Esses métodos esquecem que a realidade dos alunos de cada região do estado é diferente, dentro de uma mesma sala de aula existem alunos com necessidades e dificuldades particulares, e esquece de contemplar as especificidades dessas realidades, especificidades essas que são essenciais no planejamento do ensino. Esses métodos não respeitam os ritmos das crianças, ritmos estes que devem ser a base e perpassar todo o planejamento de um professor.
Com a adesão desses métodos o professor perde sua autonomia, se acomoda, a menos que ele seja consciente do seu papel formador e de seu compromisso com a aprendizagem de seus alunos e construa novas maneiras de educar a partir dos materiais propostos, o que muitas vezes não é viável, diante do controle e da fiscalização das instituições constituidoras dos programas.
Somos nós, educadores, que devemos dar uma resposta ao que nos é imposto, devemos nos perguntar o que ficamos fazendo quatro anos dentro de uma faculdade para chegar em uma sala de aula e recebermos um livro que nos indica cada palavra a ser repetida a cada novo ano, a cada nova turma, a cada diferente aluno. É nesse momento, e o pior, desde muito cedo, que começamos a constituir cidadãos acríticos, incapazes de criar e recriar, usar da sua criatividade. Cidadãos que seguem uma rotina predeterminada por outrem que lhe dita o que é certo ou errado, sem chances de desvios ou novos pontos de vista.
A educação tem poder transformador e ela não é mercadoria. É direito constitucional de todo cidadão e dever do Estado, que não tem o direito de passá-la a terceiros para que a controlem de acordo com seus próprios interesses. Reclamamos que nossa profissão é tão desvalorizada, mas nós mesmos a desvalorizamos ao aceitar o que nos é imposto desta maneira, tirando nossa liberdade de ensinar, de criar, de valorizar cada aluno na sua diferença.